domingo, 28 de abril de 2013

Uma outra Ilha Grande

A conversa no Centro Cultural Brasil-Turquia na sexta, apesar de pequena, foi das mais animadas e promissoras. Adorei conhecer um estudante paulista que estuda relações Portugal-Império Otomano e que já está com o turco fluente. Já o evento na Koç (fala-se Kotch) ontem foi sensacional. Fiquei encantada com os projetos que vi sobre arqueologia, história da arte e história urbana tanto ligados ao Impérios Bizantino e Otomano como a Turquia Contemporânea. Minha participação foi a de chamar a discussão sobre as cidades capitais para a História Internacional e propor uma comparação não-obvia, digamos assim, de Constantinopla com o Rio de Janeiro. Choveram perguntas, dicas, sugestões... tudo o que deveria de fato acontecer em um simpósio desse tipo. Percebi que a Koç segue o nível de excelência - e simpatia - que vi em Bilkent, mas fiquei verdadeiramente surpresa com o numero gigantesco de norte-americanos tanto no corpo docente como discente. Isso tem a ver com a crise nos EUA e com esforços da universidade em atrair cérebros, em especial da Ivy League. Amanhã tenho uma conversa com jornalistas que ficaram interessados em minha pesquisa e despedidas finais, já que volto finalmente para o Brasil, dessa vez via Dubai. Hoje, porém, consegui realizar um desejo antiquíssimo, que vale compartilhar. Fiz o passeio de barco para as "Adalar", ou "Prices' Islands", que ficam no Mar de Marmara. Fui com uma amiga turca que também nunca tinha ido e pegamos a barca de 9:30 em Besiktas, escolhendo como ponto final, a Buyukada, ou "Ilha Grande". Trata-de da ilha principal de um arquipélago de nove delas, próximas a margem asiática de Istambul. Sempre ouvia falar o quanto era simpático passar o final de semana ou ao menos um dia nas ilhas, e tinha ficado super intrigada ao saber que uma das poucas sinagogas de Istambul fechava durante o verão na cidade e "reabria" uma filial nas "Adalar". Escolhemos a Buyukada por ser a mais famosa mesmo. Chegamos as 11hs e logo pegamos um walking tour de duas horas (20TL cada). Carros não são permitidos na ilha e daí os principais meios de transporte são umas charretes alopradas (parecem que vão, sabiamente, proibir em breve) e bicicletas. Caminhar, porém, foi bem agradável e fomos então conhecendo a história da ilha, que tem forte passado cristão bizantino e grego (o nome Ilhas dos Príncipes, se deve aos príncipes bizantinos que eram exilados nela), e que ainda conta com igreja ortodoxa (visitamos o interior e lembra bastante o Patriarcado Grego, em Fener), armênia, católica e também com o consulado do Vaticano. Trotsky passou quatro anos nela, mas ainda não chegaram a conclusão exatamente em que casa. As residências são lindíssimas (tem mansões otomanas, modernas, ecléticas, uma salada!) e as vistas são encantadoras, de verdade. O que achei mais curioso, porém, foi o fato de sua igreja de São Jorge (Ayios Yeorgios) atrair tanta gente, incluindo muitos turcos (muçulmanos) no dia 23 de abril (que é feriado na Turquia por outros motivos), para fazer pedidos. A simpática guia ficou de me mandar as fotos que fez dos turcos fazendo oferendas de balas e doces, amarrando-os em linhas de nylon, ou algo assim, para terem seus pedidos atendidos! Eu, que mesmo na Capadócia tinha tido dificuldade em achar referencia ao santo guerreiro, reconheço minha ignorância a respeito. Não tinha ideia do grande apelo que a a Ayios Yeorgios tinha! Não conseguimos visitar o orfanato grego, nem comer peixe nos restaurantes locais, mas valeu muitíssimo a visita. Pena que e sempre tudo corrido!!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Um museu diferente

Existem no mundo certamente muitos museus dedicados a escritores e, por consequência, a suas obras. Um museu feito por um escritor sobre um livro seu, e novidade. Orhan Pamuk é um escritor, mormente um romancista, até a última raiz de cabelo. Para mim, porém, é alguém que ajuda/estimula a pensar a disciplina histórica. Seus livros não só apresentam temas e tabus históricos ligados ao Império Otomano e a Turquia Contemporânea como também fazem refletir sobre o papel da empatia, a arte de se colocar no sapato dos outros, fugindo de preconceitos e estereótipos. Vou falar muito sobre isso numa aula que preparo sobre ele no meu próximo curso na Casa do Saber, do Rio. O escritor istanbullu também gosta de refletir sobre a relação com o tempo e daí o papel de arquivos, coleções e museus. No caso do seu Museu da Inocência, toda a questão e a relação de Kemal Bismanci e Fusun e a fixacao do primeiro pela segunda. Istambul é também um tema muito presente, e uma Istambul diferente do seu livro de memórias sobre a cidade, escrito num período ensanduichado (2002-2003) entre a redação de Museu da Inocência (2000-2007). Se nas memórias fala da cidade decadente dos anos 1950 e 1960, ainda baqueada com a perda do status de capital e perdida sobre qual deveria ser sua identidade, no Museu já trata principalmente das décadas de 1970 e 1980, sob a ótica de uma burguesia num mood melhor. O museu (fica na ruazinha Dalgiç Cikmazi, no alto a direita da Çucurcuma Caddesi, no bairro de Beyoglu) criado em cima de uma obra de ficção, acaba sendo em grande medida um espaço que trata da vida cotidiana na cidade de Istambul na segunda metade do XX. Eu fui visitá-lo certa de que só esbarraria com estrangeiros pelos seus andares, mas a verdade é que das cerca de 30 pessoas que circulavam pelo relativamente pequeno espaço enquanto eu estive lá ontem, diria que umas 25 eram turcas. Fiquei agradavelmente surpresa, porque ainda continuo ouvindo o tempo todo por aqui o quanto os turcos não gostam dele (a ultima foi um debate que teve com Umberto Eco na Bosphorus University poucas semanas atras, em que os turcos reclamaram de que o Pamuk falou mais do que o Eco, muito auto-referenciado...). Eu deixei meu exemplar no Rio por já ter lido e ser muito grande, mas quem trouxer o seu não só não paga as 25TL da entrada (equivalente a cerca de R$25,00), como ganha um carimbo no capitulo 83. Enfim, ainda estou deglutindo o que vi por lá, mas já adianto que e tudo muito interessante, sobretudo o sótão, onde ficam as edições do livro em vários idiomas, o projeto do museu (Pamuk estudou arquitetura,então o projeto é bem profissional) e o manuscrito do livro, com as cargas vazias de caneta usadas para tanto. Em grande medida devo meu envolvimento com a história e com a Turquia de uma maneira geral a leitura de seus livros e me encontro aqui justamente agora para tratar de uma comparação entre Istambul e o Rio (ia falar em 3 momentos: no XIX, quando ambas deixaram de ser capitais, 1923 e 1960, e nos dias atuais, mas o comentador, sabiamente, disse que em 20 minutos eu não daria conta e dai vou me fixar no XIX...) no simpósio da Koç University que acontece amanhã.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ankara acadêmica

Ankara (em turco fala-se Ânkara e foi assim que acabei me acostumando a chamá-la) é a capital da Turquia há exatos noventa anos e, além de ser sede do governo e da burocracia em geral, é em grande parte uma cidade universitária. Alem de Bilkent, onde estudei e tenho amigos queridíssimos e dos mais competentes, destaco a Middle East Technical Universtiy (METU), Ankara University, Gazi e Hacettepe. A verdade, porém, é que devem ter umas doze universidades consolidadas, além de inúmeras pequenas e particulares que vem surgindo nos últimos anos. Hoje passei o dia com dois amigos que lecionam nas melhores por aqui. Um turco especializado em história otomana e um norte-americano expert em história dos EUA. Com eles observei o agradável dia de primavera repleto de famílias nas ruas aproveitando o feriado do "Dia da Soberania e da Criança Turca"; andei por Ulus (a parte mais histórica) e me assustei com a rapidez como antigas favelas (aqui chamadas de gecekondu, que significa "construídas a noite") foram removidas e transformadas em moradias, lojas e afins em "estilo otomano"; e descobri que tomar iogurte salgado (ayram) junto com a comida não e tão desagradável como me recordava. Conversamos também sobre as boas perspectivas acadêmicas tanto aqui como no Brasil, mas sobretudo confabulamos sobre projetos colaborativos dos mais diversos. Fiquei sabendo também do tal do "Mevlana Exchange Program", uma iniciativa bastante interessante de intercâmbio universitário corrente aqui na Turquia (eles vem chamando do "nosso Erasmus Program") que pode levar alunos ao Brasil no futuro. Um problema que temos, porém, é a questão da língua. Se as melhores universidades da Turquia como a METU e Bilkent usam inglês como língua oficial (ao que me consta, só os departamentos de Letras e Direito não usam), o mesmo não acontece no Brasil. Seria válido, talvez, seguir esse modelo turco quanto ao idioma??? Busto do Barão do Rio Branco em frente ao Centro de Estudos Latino-Americanos, da Ankara University (Foto: Monique Sochaczewski. 22/4/2013).

sábado, 20 de abril de 2013

Tres museus e um filme

Se uma pessoa só tiver um dia de visita a Istambul e quiser aprender o máximo sobre sua historia nesse dia, eu aconselharia a visitar três museus. O primeiro e, obvio, o Topkapi. Foi o principal palácio ocupado pelos sultões do XVI ao XIX e e bastante peculiar, com seus diversos pátios e uma organização essencialmente turco-islâmica (o pessoal do meu simpósio vai ter uma visita guiada privada na sexta e ando empolgadissima com a oportunidade!!). O segundo e o Dolmabahce, a meu ver um dos mais lindos do mundo. Nao canso de dizer isso! Ele já mostra a transição porque passou o Império Otomano no XIX e conjuga em sua arquitetura elementos europeus (os guias que lideram as visitas ficam desfiando um tal de "ferro vindo da Inglaterra", "cristais da Boemia", etc) com a peculiaridade otomana de ser formado por um selamlik - parte dos homens - e um harém -, das mulheres. Dolmabahce ainda serve de ponte com o período republicano, já que foi nele que Ataturk faleceu em 1938, e tem um salão tão bonito que ainda e usado oficialmente pelo governo, mesmo nos dias atuais. O terceiro museu que eu recomendaria, porem, a meu ver e chave para entender parte do que passa a Turquia hoje e se chama "Panorama 1453". Foi inaugurado em 2009, mas só consegui finalmente visita-lo hoje de tarde. Se nos primeiros o visitante vai se deparar com quase igual numero de estrangeiros e turcos, nesse ultimo sao poucos os estrangeiros (o texto e todo em turco e a tradução só e possível quando se aluga o audioguide). O publico e amplamente turco e religioso e fotografa, filma, se debruça para ver atentamente todos os detalhes da pintura panorâmica e da cenografia que retrata a tomada de Constantinopla dos bizantinos pelo "gênio engenheiro" do sultão Mehmet II, como diz o prefeito Kadir Topbas, no release do espaco. E um museu moderno, idealizado e executado por artistas turcos e que trata de um período da historia de engenhosidade e vitoria. Ele fica no sitio historico próximo as muralhas da cidade, onde de fato se deu o drama, mas e essencialmente uma interpretação contemporanea sobre o que deve ser retido daquela experiência. Fica um pouquinho longe de Sultanahmet (estação Topkapi do tram), mas a meu ver vale muitíssimo a visita. Em tempo: a lojinha e uma maravilha e super barata! Consegui comprar finalmente lá o DVD de "Conquest 1453", mega producao turca sobre o mesmo tema, lançada no ano passado. Vou correr atras de autorização por aqui e, de repente, organizo uma apresentação seguida de debate no Rio. Acho que seria bem legal!

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Em "casa"

Um hostel acadêmico. E assim que normalmente explico o lugar em que me hospedo aqui em Istambul. Trata-se de uma instituição mantida por scholars norte-americanos que conta com espaços em Ankara e aqui em Istambul, com ricas bibliotecas, calendários de eventos animada e também guest rooms para pesquisadores que de alguma forma lidem com a historia e atualidade da Turquia. Parece que ha instituições similares mantidas por holandeses e por alemães, próximos a Taksim Square, que e uma área bem central do lado europeu da cidade. A verdade, porem, e que desde que me hospedei aqui pela primeira vez em 2010, cai de amores por Arnavutkoy. Tem uma serie de antigas yalis otomanas debruçadas sobre o Bósforo lindamente restauradas e tradicionalíssimos restaurantes de peixe (já corri para o Vira Vira!). Não e do mais centrais, mas e um encanto! O legal desse tipo de acomodação, alem de contar com um preço bem acessível, e a troca intelectual que rola. Todos outros hospedes de alguma forma sao interlocutores de pesquisa. Tem historiadores, arqueólogos, internacionalistas, geógrafos, jornalistas, pessoal de Letras e Literatura. Podem acontecer desde discussões acaloradas sobre como melhor traduzir um termo do turco-otomano para o ingles, ate organizar uma viagem conjunta pela Asia Central (quase pedi para ir junto de tão legal que me pareceu!). Ja que anda crescente o interesse acadêmico de brasileiros pela Turquia (oba!), e uma boa dica para quem pretende se dedicar a serio em conhecer e pesquisar o pais e a regiao. E sempre penso que seria muito legal ter algo do genero no Rio para os muitos brasilianistas que vem acorrendo aos nossos arquivos e afins...

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Paris Oriental

Paris e daquelas cidades que agrada a todos. Tem sempre algo de interessante. Como ja constava na minha biografia a visita aos lugares "obrigatórios", resolvi focar essas minhas 48 horas na cidade-luz numa visita temática. Foquei meu interesse no que há de Oriente em Paris. Preparei um roteiro pormenorizado que meus ex-alunos que aqui encontrei ao virem logo acusaram: professora! Pois e, fiz o dever de casa de verificar horários e afins e no final deu quase tudo certo. Na quarta, ao chegar do Brasil, mesmo tendo feito uma viagem desconfortável e estar sem dormir algumas noites, deixei a mala no hotel, tomei um banho e um café forte e segui para o Louvre. As quartas o museu fica aberto ate 21:45 e dai pude visitar com certa tranquilidade a ala de arte islâmica recém-inaugurada, já na gestão Hollande. Não e exatamente recomendado fazer essa visita sem estar descansado, porque e enorme e requer atenção. De qualquer forma, foi interessante ver in loco que de fato a tal cobertura com "tapete voador" do primeiro andar da exposição faz um efeito lindo. A curadora, Sophie Makariou, havia falado de que a questão que norteou a exposição foi "O que mantinha Dar al-Islam unido?". O intuito era mostrar nos dois enormes - e classudos - andares o que ha em comum no mundo muçulmano do seculo VII ao XIX. E no campo artístico estão lá a cerâmica, os tapetes, a caligrafia, joias, mosaicos. Mesmo com inserções aqui e ali de vídeos interativos e alguma tecnologia, a exposição no geral, a meu ver, se mantém no estilo top-down desses grandes museus, como o V&A e British Museum. Quase surge um bocejo no canto da boca. A inauguração da nova ala se deu em grande medida devido ao apoio do rei do Marrocos, do sultão de Oma, do emir do Kuwait e da República do Azerbaijão e isso e muito interessante. Esta de fato o museu interessado em dar atenção a parte de sua coleção negligenciada por muito tempo? Entende que e hora de levar em conta um grande publico muçulmano que mora no pais e circula em seus espaços? Busca novos patrocinadores para projetos em uma fase de vacas magras na Europa?? Acho que parece de tudo um pouco. Comprei o album deles e vou estudar com carinho mais tarde. Certamente vou usar muito as fotografias que fiz do acervo (sem flash!) em minhas aulas. :0) Ja na quinta, amanheci no Musee Nissim de Camondo, pertinho do delicioso Parc Monceau. Esse e um museu que as pessoas visitam normalmente interessadas nas artes decorativas do seculo XVIII, ja que e riquíssimo nesse sentido. Confesso que não dei a menor bola para esse aspecto. Meu interesse e na familia Camondo em geral. Eram banqueiros originários de Istambul que se mudaram para Paris no final do XIX, imediatamente se imiscuiram entre os banqueiros e aristocratas de Paris e, apesar de nunca abrirem mao do judaísmo, se tornaram apaixonados pela Franca, a ponto de doarem sua incrivel casa e seu acervo para o Estado. Escrevo um artigo sobre eles no momento e a historia e longa e mesmo surreal, mas para fazer curta uma longa historia: a família foi extinta em Paris. Um filho morreu como aviador na Primeira Guerra Mundial e a irma foi levada pelos nazistas junto com o marido e os filhos e morreu em Aushwitz. Parti então para o roteiro " Le Paris Arabe Historique", andando pelo 5eme em busca da historia da ligação da cidade com o Oriente. O College de France e a Sorbonne evocam o inicio do ensino de arabe no pais e a curiosidade sobre o Oriente no seculo XVIII. A igreja greco-melquita Saint-Julien-de-Pauvre e um dos lugares mais antigos de culto de cristaos arabes na Franca (pertinho da Notre Dame). Diversas livrarias arabes ainda guardam uma tradicao de graficas e jornais em arabe publicados na Franca tendo o Oriente por vezes como alvo. So não consegui ir a mesquita, famosa por seu cha. Parti entao para o incrivel-maravilhoso-tudo de bom Instituto do Mundo Arabe. De cara amei o predio imponente com especie de arabescos por toda a fachada. Fui verificar a exposicao sobre as Mil e Uma Noites, que esta lindissima; filar o computador e conhecer a incrivel biblioteca (lotada); ir a falencia na livraria, me deliciar no cafe Noura (o kneife bate um bolao) e, principalmente, assistir a palestra do professor Eugene Rogan. Rogan e pesquisador do Centro de Oriente Medio do St Anthony's College, em Oxford, e uso muito seus textos em meu curso, sobretudo, o livro " The War for Palestine". A palestra (num frances fluente do norte-americano Rogan) era sobre a historia do mundo arabe na era das revolucoes e foi muito otimista - acho que demais - quanto ao que vem acontecendo desde 2011. O evento era aberto e estava cheio, mas não lotado. Para mim foi muito bom verificar que as discussoes que venho tendo em meus cursos estao afinadas com debates mais amplos no meio especializado e curioso ver que o fenomeno do " louco da plateia" e global. Cada um que pegava o microfone não parecia exatamente interessado em saber a opiniao do professor sobre esse ou aquele aspecto, mas em fazer um statement. Tendo a pensar que em eventos de Oriente Medio em especial nao ha como fugir disso: e um fato, uma caracteristica da area. No final pedi para Rogan autografar minha edicao recem-comprada de seu "Histoire des arabes de 1500 a nos jours" (que tem que ser traduzida para o portugues asap!) e não e que ele me disse que anda super interessado em visitar ao Brasil!!! :) Agora afivelo as malas e sigo para o Oriente, de verdade.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Sobre aulas

Obrigatórias ou eletivas, para público acadêmico ou leigo, em espaços formais ou residências. No último ano, desde que voltei da licença-maternidade para o "mercado de trabalho", minha vida tem sido uma infinidade de antigas e novas possibilidades de lecionar. Sei que no meio em que transito a norma principal é "publish or perish" e me organizo para começar a publicar este ano alguns artigos e me dedicar a uma versão em livro da tese. A verdade, porém, é que descobri depois de balzaquiana que meu coração bate por uma sala de aula mesmo. Quer dizer, por aulas, não necessariamente em salas de aula formais. Tenho tentado na medida do possível sempre inserir uma aula externa em meus cursos, ou aulas-passeio, como preferem meus alunos. E no último mês tenho tido a experiência de lecionar em residências, preparando viajantes a caminho de Israel e Turquia para que cheguem em seus destinos com algum conhecimento mais embasado da história destes, bem como com algumas dicas que dou a partir da minha vivência nestes países. Nos cursos de Oriente Médio gosto de fazer um "Arab Tour" pela Saara (é importante dizer que tenho licença de guia para fazer isso), já visitei com um grupo a Igreja Nossa Senhora do Líbano na Tijuca e já virou tradição a aula em um tradicional restaurante libanês em que discutimos o papel da culinária na memória afetiva dos imigrantes do Oriente Médio, entre outros temas. Estava pensando agora, porém, que a aula mais instigante que já fiz e, que não vejo a hora de repetir, foi uma videoconferência com estudantes de Belém, na Cisjordânia, com meus alunos da Unilasalle, ano passado. Em uma reunião de colegiado o coordenador tinha comentado que havia na sala em questão um aparelho de videoconferência que valeria ser usado. Falou-me também da parceria que tinha sido estabelecida com a La Salle da Cisjordânia (a La Salle está presente em mais de 80 países!) e que poderia me colocar em contato com um professor de lá. Contato estabelecido, aula dedicada a preparar um roteiro de perguntas a serem feitas aos alunos de lá, testes com o equipamento e eis que cedo em uma manhã de novembro passamos quase uma hora conversando diretamente com alunos palestinos muçulmanos de uma universidade católica dos territórios ocupados. Que mundo de possibilidades, literalmente!