sexta-feira, 28 de maio de 2010

Last day

Hoje é meu último dia em Bilkent. Estava planejando marcar com os amigos para um abraço de despedida, mas não precisei: o destino se encarregou! Fui tomar o último café da manhã no meu point aqui, o Sofa, um bistrozinho super simpático que funciona dentro do dormitório de número 60. Mal me sentei e chegou por acaso minha querida amiga Gözde, do doutorado em Relações Internacionais. Como das outras vezes me deu uma aula de Turquia contemporânea explicando as tensões entre turcos e curdos nas cidades mais ocidentais do país, fato que desconhecia completamente, achando que o problema era restrito ao sudeste do pais. Abraços, beijos, dicas de restaurantes em Istanbul e promessas de trocas de e-mail depois, segui para a biblioteca para fazer as cópias de textos que prometi para o meu amigo Marco de Pinto, da USP. No caminho, esbarrei com o David, amigo querido britânico que leciona no Departamento de Comunicação. Acompanhado de um colega afegão, especialista em história militar otomana, me fez sentar por alguns minutos e explicar minha “tese exótica”. Não é que o tal colega sabia alguma coisa de Império Otomano-America Latina? Cartões distribuídos, pedido expresso de encaminhamento das novas informações, segui finalmente para a biblioteca. Ao entrar, meu amigo Gürer, do mestrado em História, consultava o terminal de computador na minha frente! Promessas de trocas de ajuda em pesquisas futuras, convite para visitar o Rio, abraço fraternal e eis-me esperando as tais cópias para o Marco. Anteontem jantei com uma amiga querida norte-americana e ontem o café da manhã foi com a doce Aylin. Hoje à noite, o jantar de despedida será com as pessoas das quais fiquei mais próximas: minhas colegas de quarto. Após quatro meses, fico feliz pelos novos amigos, de graduandos a professores, de turcos a palestinos, dos 20 aos 60 anos. Certamente o foco aqui foi a pesquisa e o curso, e nisso também a estada foi fantástica, mas o coração sai aquecido pelo carinho que encontrei aqui. Valeu Bilkent!

domingo, 23 de maio de 2010

Istanbul


Passei os últimos cinco dias em Istanbul. Foi minha terceira estada na cidade, sendo a primeira na companhia de uma amiga de adolescência. Cada vez que vou para lá, porém, tudo e maravilhosamente interessante e se torna difícil voltar para Ankara. Logo de cara, fomos a um hamam. Experiência obrigatória para quem tem um pouco mais de tempo por aqui, é preferencial que seja vivida com amigas. O ideal é ir a um indicado por alguma conhecida por conta principalmente da limpeza. Fomos ao Galatasaray Hamamı, pertinho da avenida mais badalada da cidade: fácil de chegar, bem limpo, preço razoável e, bem vazio. Banhos, esfoliação, sabão e massagem, acaba sendo uma espécie de day spa, mas com toda uma aula cultural por trás. Nos dias que se seguiram batemos muita perna pela Istiklal Caddesi, entrando em galerias Art Deco e em galerias moderninhas, comendo em restaurantes típicos (a Turquia tem pouca opção de comida não-turca. São raros restaurantes italianos ou japoneses...) ou maravilhosamente engordantes fast foods, e acima de tudo, observando as pessoas. Não é difícil achar turistas passeando por lá, mas é uma avenida bastante freqüentada por turcos e tem desde mulheres com seus véus variados - algumas com burcas – até peruas, patricinhas, travestis, gays, de tudo um pouco. Pelas ruelas laterais, principalmente perto do Balık Pazarı, o mercado dos peixes, restaurantes simpáticos e alguns pubs. Tudo cheio de gente conversando, fumando cigarros ou nariguiles, por vezes assistindo a apresentações de fasıl. Um dia fomos fazer um dos passeios pelo Bósforo, o mais curto deles, de duas horas. Enquanto eu mostrava animada meus lugares prediletos ou me empolgava em compartilhar minhas leituras sobre este ou aquele palácio ou museu(na foto estou em frente ao Dolmabahce, meu preferido), uma brasileira que estava perto puxou papo. Não é que ela era uma psicanalista carioca com consultório no prédio em que minha professora de turco tem loja em Ipanema? O mundo definitivamente e uma uva! Fomos ainda assistir a uma cerimônia de dervixes, dançar numa boate local, olhar vitrines em um shopping, visitar os museus obrigatórios e regatear no Grand Bazaar. Por vezes nos separávamos, cada uma usando sua horinha para fazer algo que a outra não necessariamente se empolgasse. Foi aí que visitei a exposição do Botero no Pera Museum e fiquei encantada tanto com a exposição como com o charmoso museu compacto. Revisitei alguns lugares e conheci outros tantos, ganhei mais familiaridade com algumas ruas e, principalmente no caso de Istanbul, com todo o sistema de metrôs, funiculaires e trams. Para continuar amando essa cidade, o segredo, acho eu, é fugir do que necessariamente leva ao inenarrável, incomparável, insuportável trânsito. Com algumas moedas, comprávamos os jetons (espécie de fichas plásticas coloridas) e com eles chegávamos a maravilhas históricas, gastronômicas ou ao nosso querido hotel, absurdamente cansadas, mas felizes.

domingo, 16 de maio de 2010

Bursa


Sexta-feira foi meu último dia de aula do curso de história otomana e como só tenho compromisso em Bilkent dia 25, resolvi viajar. Terça tenho que estar em Istanbul. Lá encontrarei uma das minhas melhores amigas para cinco dias de bateção de perna pela cidade e alguma pesquisa. No caminho para lá, porém, decidi vir finalmente para Bursa. Primeira capital otomana, sede da tumba do fundador da dinastia que deu nome ao império e local visitado por d. Pedro II em outubro de 1876, razões não me faltavam para visitar essa cidade. Munida do querido Lonely Planet e de dicas maravilhosas dadas por amigos búlgaros, saí de Ankara. Seis horas de viagem no super confortável ônibus da empresa Nilüfer (os ônibus aqui tem serviços de ‘rodomoços’ e monitor de TV individual) e cheguei a Bursa no início da madrugada. Tinha feito reserva, de modo que vim direto para o simples, limpo e bem localizado Hotel Çeşmeli, e "desmaiei" de cansaço. Hoje cedo, porém já estava de pé para começar a explorar a cidade. Fui logo para a Ulu Camii (le-se Djamii), curiosa com o tal estilo seljúcida da mesquita construída no final do século XIV, mas reformada várias vezes após incêndios e terremotos. Ao sair, uma adolescente turca puxou papo e pelas próximas duas horas foi minha companheira de passeio. Seu nome é Ipek, que em turco é o mesmo de um dos principais produtos da cidade: seda. Na companhia da Ipek, explorei o Koza Han, caravançarai e mercado de seda construído no final do século XV, e que ainda mantém a tradição de vender lenços e roupas deste material, lindos e por preços bem acessíveis. Em cada vitrine, além de lindas echarpes e kaftãs, fotografias da visita da rainha britânica Elizabeth II em 2008. Segundo o dono da lojinha em que finalmente adquiri alguns lindos lenços, ela só comprou na loja dele e as demais fotos eram fakes. No pátio central, charmosos cafés. Sentei um pouco com Ipek e ouvi encantada suas histórias de garota de 16 anos que conhece um pouco do mundo (e aprimora seu inglês) através do contato com os turistas. Ela me mostrou animada o caderno em que todos deixavam dedicatórias e e-mails e falava de sua paixão por Tom Cruise e Anne Rice (algo que nasceu com “Entrevista com o vampiro”) e do pouco conhecimento que tinha sobre o Brasil: Rio de Janeiro, carnaval e novela O Clone. Amizade feita, já incluída no Facebook, e Ipek teve que ir para sua aula. Segui para minhas andanças de historiadora querendo ler a cidade e os monumentos, tanto quanto um livro. Finalmente achei as tumbas de Osman e Orhan, que ficam em um parque lotado de turistas muçulmanos, mas também de moradores locais. Lembrei-me dos viajantes europeus do XIX que sempre se espantavam com o fato dos turcos terem nos cemitérios um dos principais locais de lazer, fazendo piqueniques, por vezes sentando tranquilamente sobre as tumbas. Aqui não foi o caso, por se tratarem de personalidades por demais importantes, mas em várias localidades da cidade, simpáticos cafés funcionam ao lado de antigas madrassas ou mesquitas, cercados de tumbas. Tomei um cha ao lado de uma familia inteira de notaveis do seculo XVIII...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Avrupa


Bilkent tem uma intensa lista de atividades que complementam os cursos. Dezenas de clubes tocados pelos alunos tratam de temas como musica clássica, iatismo, cinema e também diplomacia. Alguns deles promovem eventos abertos interessantíssimos, como foi o caso da palestra proferida na semana passada pelo embaixador britânico na Turquia, organizado pelo clube diplomático. Lotado tanto de alunos quanto de professores. Já a minha querida biblioteca (cujo diretor, descobri hoje, é historiador!) promove uma vez por mês o que chamam “Library Lunch Time Lecture” http://library.bilkent.edu.tr/lunchtime/index.html. Hoje foi a vez de Halil Inalcık falar sobre o tema default por aqui: Turquia e Europa. Estava mais do que lotado, estava abarrotado de gente e o que achei mais legal: tinha gente de tudo que era departamento. Ao meu lado uma conhecida alemã que é professora do departamento de Química! Halil Bey tem 94 anos e apesar de lúcido, fala devagar e baixo e anda preferindo fazê-lo só em turco (entendi uns 40% e fiquei super feliz!), de modo que foi feita uma tradução consecutiva para o inglês. Para ser sincera não me acrescentou nada ao debate sobre a história das relações do Império Otomano e da Turquia com a Europa por estar lendo absurdamente sobre o tema no curso que faço aqui, mas foi muito bom assistir um verdadeiro patrimônio da historiografia otomana. Um dos precursores da área que pretendo seguir, respeitado mundialmente, e que se recusa a se aposentar, orientando teses fantásticas.

sábado, 8 de maio de 2010

Tapete como livro


O que é exatamente um kilim? Qual a diferença de um tapete turco de um persa? Onde exatamente na Turquia vivem estas tribos nômades que produzem tão belos tapetes? Essas foram algumas das centenas perguntas com que bombardeei o simpático casal dono de uma renomada loja de tapetes aqui em Ankara. Uma amiga estava decidida a comprar um tapete para seu apartamento e me convidou para ir com ela na loja em questão, perto do bairro das embaixadas. Tenho centenas de páginas para ler para o exame final do curso que faço em Bilkent, mas o dia ensolarado de primavera e o convite para fazer algo inédito em minha estada aqui falaram mais alto. Pegamos um dolmuş (um dia escreverei sobre esse meio de transporte típico daqui) e um táxi e chegamos lá na hora do almoço. Mesa posta, mais uma senhora na loja, e um bom tempo de refeição deliciosa (e saudável!) com os simpáticos donos. Ali expus diretamente a minha completa ignorância sobre tapetes. O dono imediatamente me brindou com dois livretos que escreveu sobre o tema, que devoro no momento. Passamos então para outro cômodo, para tomarmos chá e café turco e para que minha amiga escolhesse o tapete. Que aula, meu Deus! Cada tapete que ele mostrava para ela tinha uma história e uma geografia que só conheço de leve: Tabriz, Samarkand, Uzbequistão... Cada aldeia, cidade ou região, uma técnica, um padrão. Como diz o dono, cada tapete pode ser lido como um livro. As mulheres (é uma atividade necessariamente feminina) que os fazem expressam seus sentimentos com cores, desenhos e os costumes de sua tribo. Aquele feito por uma jovem noiva difere muito de uma mulher casada com filhos, a primeira cheia de ansiedades e expectativas e a última menos emotiva. Ele falou também do costume turco de doar tapetes para as mesquitas em agradecimento por algo ou em memória de entes falecidos, que tinha me passado despercebido, mas que explica o porquê das mesquitas que visitei em Istanbul serem tão macias: dezenas de camadas de tapetes! Aliás, por aqui nada de meias manchadas ou rasgadas ou pedicure sem estar em dia: tem que necessariamente tirar o sapato para entrar em mesquitas e tumbas e na casa das pessoas também. Nos primeiros por vezes dão um saco plástico para carregarmos os sapatos ou uma espécie de toca plástica para por em volta. Já nas casas turcas, normalmente nos oferecem um chinelo de andar em casa, mas o sapato fica na entrada. Depois de horas avaliando minha amiga decidiu que iria voltar dentro de uma semana, para confirmar se de fato amou o que escolheu e levar. Sábia decisão já que eles não são nada baratos. Quanto a mim, totalmente fora do meu orçamento comprar um, mas totalmente no contexto do meu objetivo de aprender o quanto mais por aqui.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Doente

Há dois dias a língua doía e mal conseguia engolir. Achei que não era nada demais, mas o nariz começou a sangrar hoje de manhã e, no caminho para a biblioteca, achei melhor entrar no centro de saúde da universidade. Preenchi um formulário (em turco!), segui para uma enfermeira que com um gadget que nunca tinha visto antes mediu minha pressão e daí fui ver o médico. Ele examinou aqui e ali e disse que eu tinha uma gripe poderosa(!!), me prescreveu três remédios e me mandou voltar em uma semana caso não melhorasse (medo!). Fui à farmácia que funciona a poucos metros e em minutos consegui os remédios, graças a Deus, vendidos a preços subsidiados. Desisti da biblioteca (mais por medo de passar adiante minha “doença” do que por estar me sentindo absurdamente mal) e acabei passando o dia no dormitório. Divido o quarto com duas estudantes (turcas) do mestrado de administração. Atoladas com os trabalhos finais, foram fofas como sempre se oferecendo para fazer chá ou qualquer coisa que precisasse. Aceitei a oferta de mel para colocar no chá e falei que estava bem. Quanto ao quarto, são três camas, três armários e três escrivaninhas com estantes acopladas. Os banheiros servem a quatro quartos iguais a esse no andar (se não me engano são 5 andares com quartos), sendo que alguns são banheiros turcos, se é que me entendem. Estranhão! No subsolo funciona uma laundry, com máquinas de lavar e secar e tábuas de passar (minha idéia de inferno é fazer laundry porque me obriga a passar horas no dorm!). E no primeiro piso, uma mega cozinha (temos direito a um armário e a geladeira é compartilhada por andar também) e uma espécie de refeitório com uma TV (a mulherada nao perde as soap operas daqui). Tem ainda um quarto de estudos, com duas portas poderosas, para que o barulho da TV não atrapalhe quem estiver concentrado ali (eu não gosto porque o wifi não funciona bem lá, ao contrario daqui do quarto onde escrevo). Tudo é limpo diariamente e as roupas de cama são trocadas semanalmente por umas moças que fazem também faxina nos quartos nestes dias. Enfim, tudo o mais cômodo e organizado possível. Apesar disso, porém, não vejo a hora de melhorar e sair para ver a primavera...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Senhor Algodão




D. Pedro II e Orhan Pamuk foram os responsáveis pelo meu repentino interesse pelo Império Otomano e pela Turquia. Os documentos do primeiro, principalmente as fotografias depositadas na Biblioteca Nacional e seus diários publicados em CD-ROM pelo Museu Imperial de Petrópolis, me abriram para um novo mundo de possibilidades de pesquisa. Já Pamuk, que quer dizer algodão em turco (foi engraçado ver logo quando cheguei que comprava uma blusa 100% pamuk!), primeiro me fez me identificar profundamente com Istanbul, e depois, livro a livro, foi me encantando. Ao chegar à Turquia, em janeiro último, logo quis compartilhar minha adoração por ele com os turcos e... que decepção! Até bem pouco tempo atrás não tinha encontrado um só turco que o admirasse. Os motivos para boicotá-lo são muitos, sendo o primeiro, quase sempre, o fato de ter feito um discurso pouco depois de ter ganhado o Nobel reconhecendo o “genocídio armênio”, questão espinhosérrima aqui. Depois, com quase igual intensidade, há uma reclamação pelo seu péssimo turco (como o leio em português ou inglês, nunca vi problemas, mas pelo jeito, os tradutores fizeram milagres). Por último, um incômodo por retratar somente uma elite istanbullu, com a qual muitos não se identificam. Tenho procurado ler outros autores turcos que me recomendam e já me tornei fã de Aişe (lê-se Aishe) Kulin e Yaşar (lê-se Yashar) Kemal e Tampınar já esta na minha estante aguardando para ser devorado. Kulin escreve romances históricos, com tanta fluidez que virei a noite ate acabar “Farewell” e simplesmente esqueci do mundo com “Aylin”. Kemal escreve sobre sua aldeia na Anatólia e ao mesmo tempo sobre o mundo (estou no meio de “Memed, my hawk”). O livro de Tampınar que comprei, “A mind in peace” trata de Istanbul no inicio do XX e foi várias vezes citado por Pamuk em seu “Istanbul: cidade e memória”. O tempo é curto e os interesses são muitos, mas vou fazendo o meu melhor. Vou tentando convencer as pessoas que o Brasil é mais do que Paulo Coelho também. Em qualquer livraria seus livros estão entre os Best Sellers, tem banners de “Brida”, e por vezes a biografia escrita pelo Fernando Morais... A verdade, porém, é que não ando atualizada no Brasil. Fora Milton Hatoum (que amo!!!), não tenho sido fiel a nenhum autor, embora goste muito do Bernardo Carvalho (“Nove Noites”, da Tatiana Salem-Levy (“A chave de casa”) e da Vanessa Barbara (“O livro amarelo do terminal”). Esse negócio de tese limita muito as leituras, para dizer a verdade. De qualquer forma, a paixão por Pamuk, segue firme e forte e não vejo a hora de visitar em Istanbul seu Museu da Inocência, parte das comemorações de “Istanbul 2010”, capital cultural da Europa.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Cidade do Saber






Bilkent, ao pé da letra, quer dizer “cidade do saber”. A universidade foi criada em outubro de 1984 por um senhor recém-falecido chamado İhsan Doğramacı. Foi a primeira universidade privada, sem fins-lucrativos da Turquia e o objetivo era de criar um centro de excelência em educação superior. Com a exceção dos cursos de Direito e de Língua Turca, por motivos óbvios, todas as demais faculdades usam o inglês como língua de ensino e pesquisa. O campus lembra o de universidades norte-americanas, com dormitórios e alguns serviços ao redor da área das salas de aula, centros de pesquisa e biblioteca. É tida por muitos como uma das três melhores universidades da Turquia (as outras duas são Koç e Sabancı, em Istanbul) e o nível socioeconômico dos alunos em geral e altíssimo. Mecerdes, BMW, Mini Coopers (e ate Ferrari!) são vistos aos montes por aqui e não são poucas as alunas que circulam com legitimas bolsas Louis Vuitton e afins. Algumas usam véu, mas cobrem com um chapéu ou gorro, acredito por conta da lei que proíbe véus em universidades. Por conta de diversos convênios, os alunos são estimulados a passar pelo menos um semestre no exterior e a universidade recebe gente do mundo todo também, como eu. Sou a única brasileira, mas tem muitos franceses, poloneses, norte-americanos e alguns alunos do Djibuti, Japão e Hong Kong também. E por lecionar em inglês, o corpo docente é também de variada procedência. Tenho alguns amigos dos EUA, Noruega e Grã Bretanha entre eles. Meu amigo palestino do doutorado em Engenharia me falou do estímulo (quase exigência) para que se publique ao menos um paper por semestre em journals reconhecidos internacionalmente. O Departamento de História tem três linhas de pesquisa: História dos EUA, História Européia e História Otomana. O maior otomanista (e otomano, uma vez que nasceu antes da proclamação da republica turca em 1923) vivo, Halil Inalcık, não só leciona aqui (na verdade, mais orienta teses) como doou sua coleção para a biblioteca local. Bendita hora mandei um e-mail prospectando a possibilidade de passar um semestre aqui! E que sorte de ter conhecido no Brasil a Aylin Guney, que não só me ajudou com as formalidades do processo, como ajudou a me instalar... A vida dormitório/bandejão/biblioteca por vezes cansa, mas a perspectiva de viajar nos finais de semana, a esperança de que a tese saia bem legal e o sentimento de estar abrindo um bom precedente para outros brasileiros dão uma animada... Que venham muitos para a Turquia!





segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um ser exótico



Muito já falei do meu “exotismo” no Brasil e aqui na Turquia por conta do meu objeto de pesquisa. O que me dei conta, porém, e que existe outro item que nem por um momento tinha me passado pela cabeça, mas que impressiona a todos: sou casada e mãe. Casada há quase seis anos e mãe de um garotão de quase quatro, depois de diversas conversas com meu marido resolvemos que a oportunidade de viver e pesquisar na Turquia era essencial para o meu trabalho. A família não seria um empecilho, muito pelo contrário: um mega estímulo. Várias sessões de análise, preparação de todos os tipos documentos e, o mais legal e importante, a confecção de uma "caixa do amor", e eis-me aqui com pouca crise de consciência. Essa última e uma caixa vermelha de papelão, cheia de adesivos de corações e de boquinhas, que ao longo do meu ultimo mês no Brasil fui enchendo de beijos, na frente do meu filho, além de algumas fotografias nossas e de um calendário com mais adesivos de corações em todos os dias em que eu estaria longe. Queria deixar claro para ele que eu estaria pensando nele e mantendo todo o meu amor cada dia distante, bem como ele poderia abrir e pegar beijos quando sentisse saudades. A tecnologia, com telefones celulares e Skype, também ajudaria na manutenção do contato. Já se passaram três meses e a saudade eh imensa, às vezes muito doída, mas a perspectiva de encontrá-los cheia de coisas para contar e compartilhar é maravilhosa. Diariamente agradeço a família maravilhosa que tenho.

domingo, 2 de maio de 2010

Cer Modern






Na última sexta-feira participei de um jantar na casa de uma amiga norte-americana que leciona nesse semestre um curso chamado “Escrevendo para a Internet”. A partir de conversas com ela e da visita ao seu blog e de outros “Fulbrighters” aqui na Turquia, resolvi arriscar a fazer um proprio. Sou doutoranda em História, Política e Bens Culturais no CPDOC/FGV e passo esse semestre como estudante especial do Departamento de História da Bilkent University. Além de um (ótimo) curso de história otomana, estudo turco e pesquiso na fantástica biblioteca da universidade e em outras instituições aqui em Ankara e em Istanbul. Do final do século XVIII até o início do XX um número enorme de viajantes estrangeiros que passou pela Turquia publicou suas memórias de viagens. Agora no início do XXI a moda é o blog e eis-me juntando a ela. Como a universidade é toda wireless e vivo conectada através do meu bom e velho netbook vou tentar compartilhar vivências e percepções destes meus últimos meses em terras turcas.


Esse primeiro post é sobre a CER (lê-se Djer) MODERN, http://www.cermodern.org/ um centro cultural inaugurado em abril último que visitei hoje, justamente na companhia da minha amiga norte-americana citada acima. Desde que li a respeito de sua inauguração no site www.mymerhaba.com tinha ficado curiosa sobre o novo uso que estavam dando para uma antiga oficina de consertos de vagões de trem, bem como sobre a arte contemporânea turca. Demoramos quase uma hora até achar o lugar, mas valeu a pena: é bem interessante! No primeiro piso uma exposição com obras da coleção Ebru Özdemir. Amei um ou uma (nunca sei!) artista chamado (a) Ekrem Yaçındağ com sua explosão de cores ou ausência total delas. Café Illy (primeira vez que encontro um lugar que o venda por aqui!) tomado e estratégica passagem pela lojinha (amo loja de museus e afins!), visitamos as galerias do subsolo. Aí foi Volkan Aslan e seu “Those who wear the T-Shirt” que nos segurou fascinadas por quase 10 minutos. Trata-se de um vídeo-instalação com pessoas estrategicamente não identificadas vestindo a camisa da Turquia e falando o que sentiam ao fazê-lo. Orgulhosos, descontentes, envergonhados, apaixonados... cada turco e sua Turquia tão rica e tão difícil de resumir em poucas palavras. Enfim, boa opcao para um domingo de primavera numa cidade tao sem graca como Ankara, infelizmente basicamente frequentada por estrangeiros...