quarta-feira, 23 de outubro de 2013

TED em sala

No ano de 2009 uma aluna (viva os alunos!) me apresentou ao portal "TED: Ideas Worth Spreading" e desde então me viciei nessa maravilha do conhecimento. As palestras são absolutamente interessantes, a respeito dos mais variados assuntos. Aquelas que tratam de temas ligados ao Oriente Médio são em especial instigantes e se mostram ótima ferramenta para ser usada em sala de aula, inclusive. O portal por vezes traz convidados que listam as palestras que mais lhe impactaram ou mais relevantes sobre determinado assunto. Resolvi fazer aqui também o meu top 10 com as melhores palestras para refletir e debater a respeito de questões sobre o Oriente Médio.

1. A segunda melhor escritora turca (Sorry, mas Orhan Pamuk é o primeiro!), Elif Shafak, reflete sobre o papel da literatura no mundo contemporâneo, indo além de estereótipos: http://www.ted.com/talks/elif_shafak_the_politics_of_fiction.html

2. Um dos mais famosos mediadores de conflitos da atualidade, e professor de Harvard, William Ury, tem um singelo projeto que poderia trazer a paz ao Oriente Médio. Quem se interessar por essa em especial, recomendo o livro "Tirando os sapatos", do rabino Nilton Bonder, que fez o Caminho de Abrãao: http://www.ted.com/talks/william_ury.html

3. A carioca Julia Bacha mostra que na questão palestina existe um enorme componente de não-violência: http://www.ted.com/talks/julia_bacha.html

4. O designer israelense Ronny Edry criou um interessante projeto que vem aproximando israelenses e iranianos: http://www.ted.com/talks/israel_and_iran_a_love_story.html

5. O ex-diretor da Al Jazeera, Wadah Khanfar, e sua visão do que era a Primavera Árabe em seu início: http://www.ted.com/talks/wadah_khanfar_a_historic_moment_in_the_arab_world.html

6. O egípcio Wael Ghonim e sua visão da revolta egípcia também no seu início: http://www.ted.com/talks/wael_ghonim_inside_the_egyptian_revolution.html

7. O jornalista turco Mustafa Akyol e sua visão sobre os dilemas por que passa o Islã no mundo contemporâneo e sobre a "uniqueness" turca: http://www.ted.com/talks/mustafa_akyol_faith_versus_tradition_in_islam.html

8. A egípcia Dalia Mogahed e sua visão sobre a Primavera Árabe: http://www.ted.com/talks/dalia_mogahed_the_attitudes_that_sparked_arab_spring.html

9. O qatari Fahad Al-Attiya e como seu país vem lidando com a questão da escassez de água: http://www.ted.com/talks/fahad_al_attiya_a_country_with_no_water.html

10. O iraniano sediado nos EUA Trita Parsi e sua visão sobre as relações entre Irã e Israel: http://www.ted.com/talks/trita_parsi_iran_and_israel_peace_is_possible.html


Além, do TED, o programa Conversations with History, da Universidade de Berkeley, tem passagens super úteis para levantar discussões. Mas lá, tem que ter recorte de tempo, pois as entrevistas duram cerca de 1 hora. Já as palestras do TED, duram cerca de 15 minutos, o que é realmente ótimo para sala de aula!

domingo, 29 de setembro de 2013

Curso sobre Império Otomano

Osmand Hamdi Bey. O treinador de tartarugas. Pera Museum (Istambul). XXX Já faz um tempo que tinha vontade de ministrar um curso sobre a história do Império Otomano no Rio. Agora finalmente a coisa vai rolar!! Por três quartas-feiras (30/10, 6/11 e 13/11/2013), das 18:30 às 21:30, na sala multimídia do Centro Cultural da Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241 - Centro - RJ) acontecerá o curso "História do Império Otomano (1299-1922)". Custará R$220,00 e mais informações serão obtidas através do e-mail cursoimperiootomano@gmail.com. Passarei justamente essa semana aqui na Espanha me inteirando mais das pesquisas correntes e compartilhando a minha própria no 13th International Congress of Ottoman Social and Economic History (ICOSEH). Tenho certeza que tudo será imensamente útil para o curso e, quem sabe, para instigar futuros pesquisadores no Brasil?!! ;) Os objetivos e o programa preliminar estão aqui: O Império Otomano foi um dos mais longevos e vastos da história e sua história é ainda pouco conhecida no Brasil. O intuito neste curso é tratar da história do Império Otomano desde seus primórdios até seu esfacelamento final, fazendo largo uso de bibliografia recente a seu respeito, bem como pesquisa própria e larga iconografia. Ao final se apresentará breve panorama do Oriente Médio atual e sua herança otomana, bem como informações gerais sobre a Turquia Contemporânea; Aula 1 – As origens dos povos turcos na Ásia Central, sua conversão ao Islã, sua migração para a Anatólia e fundação do Império Otomano; A “época áurea” do Império Otomano chegando ao cerco de Viena de 1683; Aula 2 – O período que vai de 1683 a 1876, com ênfase nas mudanças sofridas durante o período conhecido como “Tanzimat” (1839-1876); Aula 3 – A fase final do Império Otomano perpassando o sultanato de Abdul Hamid II, Jovens Turcos, a Primeira Guerra Mundial e a Guerra da Independência. O fim do Império Otomano e nascimento da Turquia Contemporânea;

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Admirável mundo jovem!

Vivemos tempos interessantíssimos, em que sobretudo jovens no mundo todo (em especial no Brasil e na Turquia nas últimas semanas), saem às ruas demandando direitos, questionando o establishment e clamando por mudanças. Quase metade, segundo pesquisas do Ibope, aqui no Brasil, e da Bilgi University, na Turquia, sai às ruas pela primeira vez, e um número expressivo não se sente representado por qualquer partido político. Importante "wake up call" que parece estar forçando a reflexões em ambos os países sobre o papel dos partidos, embora também com grande grau de desqualificação da posição destes jovens apartidários por parte de antigos militantes. Por aqui a mídia tradicional vem cobrindo com bastante assiduidade as manifestações lá e cá, contando com análises e comentários de estudiosos e especialistas. Senti falta, porém, de maior atenção ao feito de um jovem em especial: o palestino Muhammad Assaf, de Gaza. Sua vitória no "Arab Idol" - reality show transmitido a todo o mundo árabe nos moldes do "American Idol" - no último sábado (22), trouxe uma empolgação rara aos palestinos em geral e talvez sirva de estímulo para que finalmente ocorra uma unificação política. Isso acontece por conta da avalanche de assuntos internacionais - e domésticos - importantes ou por conta da dificuldade de fugir do esteréotipo da cobertura da questão Israel-palestinos, mormente focada em violência e desencanto? Não lembro de ter visto por aqui atenção à iniciativa "Israel loves Iran", do designer Ronny Edry (seu TED tem mais de um milhão de views e foi tema bastante recorrente no ImpactJournalism Day em vários lugares do mundo), embora os documentários de Julia Bacha (sobretudo, "Budrus") tenham ganho relativo espaço. Para quem ainda não está inteirado da história rocambolesca (que certamente dará filme) de Assaf, vale assistir essa matéria da CNN: http://www.youtube.com/watch?v=_lbQu7BSp08. E em relação aos jovens do Oriente Médio em especial, vale acompanhar a nova tomada das ruas que prometem para o dia 30/6, no Egito.

sábado, 22 de junho de 2013

Lá e cá

Não fui e não devo ir a nenhuma manifestação no Rio. Por mais que também tenha me empolgado com a movimentação e tenha uma agenda de reivindicações, sou mãe de duas crianças pequenas e tenho alguma boa idéia do que é a polícia brasileira e aglomerações de uma maneira geral. Portanto, não quis me arriscar mesmo e fiquei aqui na cadeira giratória, acompanhando pela internet os acontecimentos. Ao mesmo tempo também acompanhava a nova fase das manifestações na Turquia e tentava traduzir para os amigos de lá o que estava acontecendo aqui. Para mim é muito claro que Turquia e Brasil tiveram suas manifestações iniciadas por razões bem distintas, mas que na realidade serviram de gota d'água para uma série de insatisfações catalisadas pela extrema violência policial em ambos os casos (e a severa censura no caso turco). O gênio saiu da garrafa em ambos os países na forma de massas nas ruas das principais cidades. Lá era mais clara a polarização do país e o descontentamento bastante centralizado na figura do primeiro-ministro. Aqui a polarização me parece que fica mais clara sobretudo após as manifestações de quinta: reaça X comuna. Lá as teorias conspiratórias são anunciadas a cada dia por Erdoğan: é coisa do American Enterprise Institute; é coisa dos tais do interest rate lobbies; tem dedo do Irã; é uma sabotagem porque o país finalmente resolvia a questão curda, etc. Aqui vejo no Facebook principalmente por colegas acadêmicos: é um golpe da direita fascista à la 1964; é um golpe do próprio PT para remover a Dilma e trazer o Lula de volta; é uma ação comum de repressão violentíssima para que o povo não saia mais às ruas; etc. Na Turquia todos ficaram revoltados em especial com a CNN Türk, porque enquanto a violência corria solta nas ruas de Istambul, o canal passava um singelo documentário sobre pinguins. Por aqui, ao cobrir as manifestações, os repórteres da maior emissora não usam a logo em seus microfones e outras emissoras tiveram carros incendiados. Na Turquia os vários grupos com diversas agendas tentam se reinventar e manter a resistência de maneira não violenta (à la ensinamentos de Gene Sharp): fazem fóruns políticos toda noite da maneira mais silenciosa possível e tentam ali se conhecer melhor uns aos outros e preparar os próximos passos. O governo contra-ataca reunindo a massa que lhe apóia em grandes manifestações e segue desqualificando os manifestantes e usando a força. Alguns daqueles que historicamente lhe apoiaram começam a balançar, porém. No Brasil, a presidente demorou a aparecer, mas o fez ontem em tom mais conciliador, embora incitando a ira de boa parte dos médicos do país que começam a divulgar imagens estarrecedoras da realidade que vivem. O MPL diz que se retira das manifestações; discute-se qual o papel dos partidos nestas e como a insatisfação vai ser canalizada em termos políticos, se é que vai. A coisa toda ainda está bem embaçada. Eu amo muito o Brasil e a Turquia no âmbito pessoal. Gosto justamente da complexidade, da mistura, da ponte (literal, no caso turco) que são. Por dever de ofício, porém, não compro nacionalismos, nem teorias conspiratórias. As perguntas e as dúvidas ainda prevalecem. Eu acho que por vezes, se não no geral, o cinza é a melhor resposta mesmo. Preto e branco me parece simples demais, precipitado demais, imaturo até, como é declaradamente a democracia turca, e também a nossa.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Minha Taksim-Istiklal

Em abril último passei duas semanas na Turquia, boa parte do tempo em Istambul. Quase todos os dias passava por Taksim. Foi lá que desembarquei do Havatas (espécie de Frescão) vinda do aeroporto e peguei finalmente o táxi para minha amada Arnavutkoy. Era lá que, vinda de funiculaire de Kabatas ("na parte baixa" da cidade), encontrava com amigas para papear no Kitchenette embaixo do The Maramara Hotel, e depois seguia a pé pela Istiklal Caddesi, o lugar que sempre mais amei em Istambul. Mais do que o histórico Sultanahmet, por mais estranho que pareça ser isso para uma historiadora estudiosa de Império Otomano. Sempre gostei de ver a mistura de turcos de todos os tipos e turistas do mundo todo, de preferência tomando um café no The House Café! Aliás, em Taksim pegava o metrô justamente para ir ao shopping Cevahir (lê-se Djevahir), perto duas ou três estações (Sisli)!! A verdade, porém, que a Taksim de 2013 estava bem diferente da de 2010, quando morei na Turquia, em que fazia coisas bem parecidas. A de abril último estava tomada por tapumes, como mostra a foto que fiz, não sei bem porque. Aliás, Istambul como um todo estava tomada por tapumes. Como um dos motivos de minha ida tinha sido justamente participar de um simpósio chamado "Citties: bigger picture", o tema das transformações urbanas previstas (e não propostas!) pelo governo do AKP foi recorrente em todos os jantares, chopps (yep, ainda podia), cafezinhos dos intervalos do meu evento. A terceira ponte sobre o Bósforo, prevista justamente para ser construída perto do campus da universidade que sediava o simpósio e a nova ponte horrorosa metálica sobre o Chifre de Ouro eram as mais execradas, assim como o projeto do tal novo canal ligando o Mar Negro ao Mar de Mármara, o tal Kanal Istanbul. Esse último é tão gigante que o próprio primeiro-ministro chamou de louco: http://www.hurriyetdailynews.com/govt-gives-green-light-to-crazy-canal-istanbul-project.aspx?pageID=238&nid=44823. Nunca ia imaginar que seria justamente o Gezi Park que ia servir de fagulha catalisadora de insatisfações de mais variadas e levaria dezenas de milhares de pessoas às ruas! Agora acompanho atenta e angustiada, sobretudo pelas redes sociais e obscuros canais noruegueses (viva o Google Translator!) o que vai por Taksim e arredores, assim como pela Turquia como um todo. Os perfis que me informavam ontem, porém, como Occupy Turkey, misteriosamente pararam de abrir e muitas fotos não podiam ser compartilhadas: exasperador tudo isso e contraproducente, já que aumenta ainda mais o interesse!

domingo, 26 de maio de 2013

Um outro Rio

Já existe um movimento de criar roteiros turísticos interessantes na cidade do Rio de Janeiro, que fujam do tradicional (e belíssimo) Pão de Açúcar-Corcovado-praias. O pessoal da agência Rios de História vem fazendo um trabalho bem legal nesse sentido, com criativos roteiros históricos e culturais, bem como o pessoal do "Roteiros Geográficos do Rio", ligado ao Instituto de Geografia da UERJ. Teresa Montero faz também um belo trabalho com seus "passeios" pelo Rio de Carmen Miranda e Clarice Lispector e já vi que de tempos em tempos acontece um tour Art Déco pela cidade. Eu mesma o fiz muitos anos atrás, no âmbito do incrível curso "Espaços do Rio", que era oferecido no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Minha contribuição nesse sentido vem acontecendo mais no âmbito de minhas aulas, com os tours "Rio Global" e "Arab Tour". O primeiro procura acrescentar outras conexões que a cidade mantinha ao longo do XIX para além da Europa e da África, começando na Praça XV e terminando na Cinelândia. Já o último justamente começa na "europeia" Cinelândia e termina na parte da SAARA que ainda mantém mais características árabes. Em um mundo ideal, eu seguiria com o grupo para a Tijuca e lá visitaria as instituições aqui criadas pelos cristãos, muçulmanos e judeus árabes, mas nunca dá tempo de fazer tudo de uma vez só! Volta e meia recebo pedidos para fazer esse roteiro com pessoas que não são meus alunos (só para lembrar, tenho licença da Embratur), mas nunca consegui por em prática. Vai que com uma divulgação dessa iniciativa aqui, eu consiga fechar um grupo e a gente explore um Rio um tanto quanto diferente? Quem se interessar, por favor, escreva para o e-mail sbmonique@uol.com.br. Abaixo: Padaria Bassil, tradicional padaria árabe estabelecida em 1913 na Rua Senhor dos Passos e que conta, a meu ver, com a melhor esfiha do Rio! O azulejo preto e branco tem uma interessante história, ligada ao futebol carioca, que conto no tour. Foto: Monique Sochaczewski, setembro 2011).

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Crowdfunding

Segundo ouvi em palestra recente, parece que o pessoal de Produção Cultural da UFF já vem produzindo escritos acadêmicos sobre o uso de crowdfunding, financiamento coletivo, no Brasil. Já existem casos de professores usando as plataformas para viabilizar projetos educativos, mesmo em História. Gostei em especial do "History by Imagication", apresentado recentemente no Kickstarter (principal plataforma estrangeira) e sei que existem vários, nos EUA e mesmo por aqui. Já existe também nos EUA uma plataforma especializada em projetos acadêmicos, embora fortemente voltada para ciências biológicas e exatas, a Microryza. O que me inquieta agora é a partir de que momento o meio acadêmico brasileiro vai também se direcionar para essa modalidade de financiamento para seus projetos. Imagino um mundo de possibilidades para Ciências Sociais e Humanas: livros, exposições, confecção de material didático, organização de eventos, exposições, etc. Mesmo viagens para trabalho de campo. Já há um interessante precedente, como o caso da jornalista brasileira Vanessa Oliveira, que cursa o mestrado de Altos Estudos da América Latina, na Sorbonne. Vale assistir seu vídeo e estudar seu projeto "MiBuena Vista", sobre pesquisa em Cuba, no Catarse (http://catarse.me/pt/projetomibuenavista) e, quem sabe, replicar por aqui. Agências de financiamento, editais e instituições formais ainda são os meios tradicionais de se viabilizar e fazer pesquisas no Brasil, mas isso pode se flexibilizar e vale experimentar.